segunda-feira, agosto 28, 2006

Karl Barth

KARL BARTH

Comentário da Carta aos Romanos

Versos de um pároco de Hessen à Karl Barth:
Cães Farejadores:
“ Deus precisa de homens – não gente com frases altissonantes mas cães, bons farejantes, que farejem no presente o odor da eternidade, que ainda que muito escondida, seja caçada, seguida sem cansaço, à saciedade”.
Diz Barth: “Sim, Deus precisa...! E um tal Domini Canis gostaria de ser”.

Barth cita de Kierkegaard:
“Paulo não pode considerar a sua vocação para o apostolado como uma ocorrência casual, momentânea, de sua vida; ela é fato paradoxal que o acompanha desde o primeiro momento de sua existência e permanecerá com ele até o fim, à parte de sua identidade pessoal”.

Jesus, como plano perpendicular ao nosso e lhe cortando vindo do alto: “Jesus como o Cristo, o Messias, é o final dos tempos. Ele só pode ser entendido como paradoxo (Kierkegaard) como vencedor (Blunhardt), como pré-história (Overbeck).”

Nota de Koller Anders, tradutor e comentarista:
“A crise é o esvaziamento do Ego. A crise precipita no caos todas as prerrogativas humanas, ainda que estribadas na própria cruz de cristo; ela reduz o homem a nada, escravizando-o completamente, perante o Cristo ressurreto, que, então, preenche o coração contrito e humilhado, criando a nova criatura. É somente nesta condição de crise total que se abrem as portas do coração, da Igreja e da Cidade – para entrar o Rei da Glória”.

Barth salienta a corrupção da Idolatria e afirma Koller:
“A presunção humana ainda que mui piedosamente fundamentada, não alcança o beneplácito de Deus, antes é uma forma de idolatria que impede a participação na graça e da graça Divina”.

Barth interroga, o que é o homem agora, após a queda e aquém da ressurreição:
“O homem é o seu próprio senhor e a sua condição de criatura é o seu grilhão, seu pecado, a sua culpa; sua morte, o seu destino; seu mundo é um caos disforme que flutua ao léu sob a ação de forças naturais, anímicas e algumas outras. Sua vida é uma aparência”.

Barth nos diz que a verdade não pode ser comunicada diretamente, por Cristo foi estabelecido pelo Espírito; cita de Kierkegaard:
“o espírito é a negação do que é reconhecível diretamente. Se Cristo for verdadeiro Deus, então ele será necessariamente irreconhecível. O conhecimento direto é uma característica inerente aos ídolos”.


Barth nos fala do Não total de Deus e o Sim divino e cita de Lutero:
“A fé orienta-se às coisas invisíveis; para dar oportunidade à fé, é necessário que tudo o que se há de crer esteja oculto, e esse ocultamento é tanto mais profundo quando o objeto da fé fica em franca oposição ao sentido da vista, da sensação dos sentidos, do senso, e da experiência. Quando Deus, pois vivifica faz morrer;quando justifica ele o faz, inculpando-nos; quando nos conduz ao céu, fá-lo conduzindo-nos ao inferno”.

Barth vê a fidelidade a Deus incondicional:
“Quem confia em Deus, em Deus mesmo e somente em Deus, isto é, quem reconhecer a fidelidade de Deus na própria contradição que essa fidelidade impõe e pela qual somos deslocados da existência e do ser deste mundo, quem corresponder a essa fidelidade divina com a sua própria fidelidade, quem ficar com Deus, apesar de todos os ‘ainda que’ e ‘apesar de’, este crê!”

Barth afirma que quem crê ama ao Deus Absconditus, e cita de Lutero:
“Só o preso é liberto, só o fraco é robustecido, só o humilde é exaltado; só o que está vazio se farta. Apenas o nada se torna algo”.

Barth admira-se com a impossibilidade possível:
“A realidade é que reverência e a humildade perante deus, a possibilidade da fé, no âmbito humano, só podem ser consideradas como impossibilidades; como sendo incompreensíveis ‘ riquezas de sua bondade’. ‘Como mereci ver, eu que era cego?’ É uma inexplicável contenção de sua ira: ‘Por que sou, justamente eu, uma exceção entre milhares?’ É uma incompreensível paciência de Deus para comigo: ‘Pois o que pode Deus esperar de mim ao dar-me tão inaudita oportunidade?’ Nada! Absolutamente nada justifica e esclarece este ‘eu’ e ‘para mim’, que está totalmente no ar; é puro e absoluto milagre, vindo de cima”.

Barth cita de Overbeck. O Cristo pré-histórico:
“O Antigo Testamento – no sentido comum desse qualificativo, não precedeu a Cristo porém, Cristo viveu nele, ou melhor, o Antigo Testamento foi sua vida pré-histórica; foi, por assim dizer, a testemunha, a imagem direta que acompanhou essa vida”.

Barth fala da carreira de Jesus de forma brilhante e antológica:
“A carreira de Jesus foi uma revista, uma passagem ao longo de todas essas possibilidades humanas. Foi como uma saudação a todas as coisas deste mundo, sujeitas a morte, passando ao lado delas; foi um distanciamento de todas possíveis negações e posições do mundo, de suas teses e antíteses, de toda agitação e de todo repouso humanos – exceto a morte”.

Barth nos diz acerca da morte de Cristo e do reino de Deus:
“Não há uma só linha dos evangelhos que pudesse ser entendida sem a cruz. O Reino de Deus é o reino que começa exatamente do outro lado da cruz. Portanto, começa do outro lado de todas as possibilidades humanas, tais como ‘religião’, ou ‘vida’, conservantismo e radicalismo, física e metafísica, alegria ou sofrimento do mundo, amor ou responsabilidade humana, atitude ativa ou passiva na vida”.
[Kollen: Além da cruz] “É além de tudo ‘isso e aquilo’, de tudo”.

Barth discorre sobre a abnegação de Cristo:
“A vida de Jesus brilha por força desse ‘não envolvimento’, desse afastamento e as coisas do mundo refletem esse brilho, revelando sua relatividade, suas fraquezas e também as suas riquezas. É nessa luz refletida que os homens são reconhecíveis como criaturas de Deus e como os que aguardam sua obra redentora. São reconhecíveis como pequenos e grandes; como importantes e insignificantes, perecíveis e imperecíveis. Reconhecíveis na unidade vindoura com o seu respectivo contraste, com o seu ‘sim’ e o seu ‘não’, contraste este que não é se não, a unidade com o invisível tornado visível Sub Specie Mortius por Deus”.

Barth afirma como Deus se torna visível:
‘Cristo morreu ‘por nós’. ‘Por nós’ quer dizer à medida que sua morte for o ‘princípio de reconhecimento’ de nossa morte; à medida que, na morte de Cristo, o Deus invisível se torna visível para nós; à medida que a morte de Cristo passa a ser o ponto de nossa filiação a Deus”.

Barth nos fala do Reino de Deus: é o seu domínio e a esfera de seu poder:
“Graça não é graça quando o agraciado não estiver justificado. Justificação não é justificação, se ela não for imputada ao pecador. Vida não é vida, se não for a vida que surge da morte. Deus não seria Deus, se não significasse o fim do homem”.

Barth define o que é viver em pecado:
“Vivemos em pecado, isto é, vivemos condicionados por força invisível que nos compele a, consciente e voluntariamente, intentarmos divinizar as coisas do mundo e trazer Deus ao nível dos conceitos humanos”.

Barth: O homem velho ficou obsoleto após a ressurreição de Cristo.
“O pecado tem corpo, isto é, tem existência concreta, esfera de influência, base de ação, tem substrato, O pecado tem existencialidade, expansão, autosuficiência,, substância e atividade no mundo temporal das coisas e dos homens. Como ‘corpo’, o pecado é constantemente visível, histórico, real. Este ‘corpo do pecado’ é o ‘meu corpo’ a minha existência tenporal-material e – humana com a qual estou inseparável, indissolutamente unificado”.

Barth nos fala da identidade do “novo homem”:
“Ora, estando eu na esperança da ressurreição e tendo em vista a minha identidade com o ‘novo homem’ que está além da morte de Cristo, não preciso, não posso, não devo e não quero ser pecador”.
Barth afirma que a ressurreição está além da planície e do ambiente histórico:
“Se a ressurreição fosse tomada, de alguma forma como um fato da história então não haveria afirmação. A ressurreição ficaria então envolta da mesma penumbra do distanciamento, da inexatidão e da dúvida que caracteriza todos os fatos da história... Mas não há porque nos preocupemos com este aspecto que se poderia dar à ressurreição, pois toda a ameaça que o mundo faz ao cristianismo através da história, ocorre, indubitavelmente, quando o cristianismo passa a ser parte da história; quando ele se transforma em temporal, mundano; quando graças a traição dos teólogos, pelos mais extensos e ínvios rincões, ele perdeu a noção de que a sua verdade não deve ser buscada apenas além do Não, além da morte, além do homem, porém para além da possibilidade de, sequer, contrastar o Sim e o Não, vida e morte, Deus e o homem; para além de qualquer possibilidade de colocar Deus e o homem lado a lado ou de jogar um contra o outro, pois este é o significado da ressurreição de entre os mortos: ‘Por que buscais entre os mortos, ao que vive?’”. Mt 24.5

É explicável, diz Barth:
“Explicável que o pecado habite meu corpo mortal, mas não seria explicável que eu fizesse ‘um arranjo’ com ele; que eu, com ele estabelecesse uma sorte de compromisso, um modus vivendi”.

Diz Barth: Tu que recebeste a graça:
“Portanto existencialmente falando, tu que recebeste a graça não estás sujeito à possibilidade de cair no cativeiro do pecado; tu já não és cativo, não és prisioneiro. Teus membros não foram destinados, nem têm aptidões para construir a torre de babel! Não ponhas pois, à disposição do pecado. Põe-te à disposição de Deus. Existencialmente, tu és de Deus!”

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